sábado, 15 de janeiro de 2011


Modelos arquitetônicos não consideram exigências do clima da Amazônia



"Belém é uma cidade que se desenvolve de costas para a Amazônia. Seus edifícios pouco se diferenciam dos executados nas demais latitudes deste país. A cidade é um bom exemplo da urbanização feita pelo prefeito Antônio Lemos - que aplicou ao planejamento adaptações de uma proposta neoclássica para uma cidade na região amazônica". A afirmação é do professor Irving Montanar, coordenador do Laboratório de Análise e Desenvolvimento do Espaço Construído (Ladec), pertencente à Faculdade de Arquitetura do Instituto de Tecnologia da UFPA.

Avaliar o desempenho do espaço construído e desenvolver estratégias para garantir a eficiência energética e o conforto ambiental de edificações projetadas na Amazônia é o tema norteador das ações de fomento às linhas de pesquisa trabalhadas no Ladec. O Laboratório está em ação há cinco anos, investigando também possibilidades para o aproveitamento de ventilação e luz natural para edificações, visando reduzir o consumo de energia pelo uso de condicionadores de ar, cada vez mais procurados por quem mora na Cidade das Mangueiras.

Além do tão desejado conforto, o ambiente ventilado faz bem para a saúde, uma vez que permite a diluição e a renovação constante do ar, reduz a concentração de resíduos de ácaro e mofo em suspensão, diminuindo a incidência de crises alérgicas respiratórias, irritação de olhos e narinas. De acordo com o pesquisador, o grande desafio da atualidade para as ações edificantes em Belém é garantir a acessibilidade ao vento.

Hoje, o fenômeno da verticalização é apontado como o responsável pelo adensamento urbano e, portanto, pela redução da velocidade do vento nas cidades. A verticalização vem como instrumento para o aproveitamento máximo dos lotes urbanos, promovendo alta densidade de ocupação e propiciando a moradia mais próxima ao centro. "Cabe frisar que a vilã da história não é a verticalização em si, mas a aplicação e o uso inadequado de critérios de adensamento", explica Irving Montanar. A falta de cuidado específico na implantação de edificações, principalmente no térreo, pode inibir a boa circulação dos ventos.


Projetos devem buscar sombreamento e ventilação

"Quando edifícios são construídos muito próximos, prejudicam a ventilação não só no próprio edifício, como também em áreas adjacentes", afirma o pesquisador. Isso ocorre porque a verticalização está sendo aplicada sem uma área livre na proporção adequada para favorecer a ventilação. "Hoje, temos tecnologia e exemplos históricos para demonstrar o que não funciona e como proceder corretamente. Nossos legisladores e agentes imobiliários devem estar atentos para isso", diz Irving Montanar.

Segundo o coordenador do Ladec, para melhorar as condições de conforto ambiental em clima tropical úmido, dois princípios básicos são essenciais: sombrear e ventilar simultaneamente. "Seria o caso, por exemplo, de evitarmos bloquear a circulação do ar e utilizar pilares (pilotis) nas áreas térreas dos edifícios em geral, deixando áreas livres para o convívio no solo. Da mesma forma, a construção de amplas áreas de janelas devidamente sombreadas auxiliaria, de modo efetivo, na sensação de calor, além de melhorar a iluminação natural e a qualidade do ar", ressalta.

A aplicação das estratégias, no entanto, exige cautela e, acima de tudo, a demonstração do estudo e a documentação de cálculo da viabilidade da solução envolvida, uma vez que as janelas também podem abrir acesso ao barulho e à poluição típica das grandes cidades. "Nem sempre ventilar é uma boa solução", indica Irving Montanar. Boas soluções estão sendo apontadas pelas pesquisas do Ladec e ainda por trabalhos de conclusão de curso da Faculdade de Arquitetura da UFPA.
Soluções para o clima tropical


Veja, a seguir, dicas de ações edificantes para manter o conforto ambiental em moradias de cidades de clima tropical úmido:

• Consultar um arquiteto e urbanista habilitado a documentar, por meio de planilhas de cálculo e gráficos, a metodologia mais adequada ao conforto térmico e luminoso do ambiente em questão, de acordo com o tipo de uso e a localização da construção;

• Consultar e aplicar a norma NBR15220- Desempenho Térmico de Edificações - Parte 3 - Zonemaneto Bioclimático Brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social;

Usar cores claras para as fachadas das casas e edifícios;

• Abrir janelas que adotem 40% da área do piso da edificação, garantindo a permanência, por mais tempo, da luz natural no ambiente e adotar sombreadores (brise soleil), uma espécie de borda protetora projetada como um toldo, para evitar o aquecimento interno do ambiente pela entrada dos raios solares;

• Ao edificar, optar por lajes-teto concretadas com isopor, quando possível, para evitar o acúmulo de carga térmica na estrutura da edificação;

• Associar áreas de "circulação livre" junto aos recuos, "avarandando" espaços para circulação do vento através do uso de pilotis (pilares), ou ainda grades em vez de muros, assegurando, assim, a circulação do vento junto ao solo.

Fonte- http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/i...ma-da-amazonia

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